EDITORIAL
DOI:
https://doi.org/10.29327/Resumo
No seu segundo ano a Margarida Penteado Revista de Geomorfologia (MPRG) nos brinda com temas que estabelecem diálogos entre o entendimento e a gestão das paisagens geomorfológicas naturais e humanizadas. Os artigos abrangem desde os contextos regionais
brasileiros, concernentes ao Sudeste e o Nordeste, ao litoral setentrional da Colômbia. As contribuições reunidas no presente número versam sobre diferentes aspectos das dinâmicas geomorfológicas e ambientais, com ênfase nas interações entre processos naturais e ações
antrópicas em ambientes costeiros, urbanos e bacias hidrográficas.
Um dos destaques é o trabalho sobre os processos litorâneos da costa norte da Colômbia, que analisa o transporte unidirecional de sedimentos impulsionado pelos ventos alísios e os efeitos negativos da intervenção humana, como a construção de molhes, sobre a erosão costeira
a jusante. Em seguida, a relação entre práticas conservacionistas e geomorfologia também é abordada a partir da integração entre saberes geomorfológicos e ações de manejo com vistas a promover maior eficácia na mitigação de impactos erosivos e degradação ambiental tendo a
bacia hidrográfica como unidade espacial de análise. Os efeitos da urbanização e da antropização sobre os sistemas de superfície são
evidenciados em diferentes contextos morfoclimáticos. Em Rio Claro (RJ), a formação de voçorocas em taludes rodoviários ressalta o impacto de estilos inadequados de uso da terra sobre solos vulneráveis aos processos de erosão linear intensificada. Já em Natal (RN), a análise em microescala de riscos geomorfológicos em dunas urbanizadas nos apresenta como a expansão urbana em áreas frágeis aumenta a susceptibilidade à ocorrência de desastres, sinalizando para o papel da análise geomorfológica como ferramenta essencial para o planejamento e gestão do risco. A percepção dos impactos socioambientais também é explorada por meio da aplicação de questionários a estudantes da educação básica de Petrópolis (RJ). A investigação revelou facetas geralmente negligenciadas pelos estudos geomorfológicos, como o sofrimento que acomete as populações afetadas, e a falta de discussão em ambiente escolar sobre os riscos que afetam as áreas urbanas do município. Esta contribuição possui relevância singular diante dos eventos
catastróficos ocorridos em 2022, reforçando a importância da educação ambiental como ferramenta de construção de resiliência ambiental entre os aprendizes. De volta ao Nordeste, as bacias do rio Trancoso (BA) e do rio Santo Antônio (MA) são analisadas a partir das formas de uso da terra e sua relação com o escoamento superficial. Em Trancoso, observou-se a pressão sobre ecossistemas frágeis com o avanço da urbanização e da
pecuária, indicando riscos crescentes à dinâmica sedimentar e à qualidade hídrica ao longo do canal fluvial. No Maranhão, o estudo do escoamento superficial com base na técnica do número da curva (CN) e testes de infiltração evidenciou que áreas urbanas e de solo exposto concentram
os maiores índices de escoamento, o que pode intensificar o risco a enchentes e erosão. Por fim, a avaliação do geopatrimônio costeiro na Ilha do Maranhão discute o valor científico das geoformas, para fins de conservação, com foco sobre as formações geomorfológicas litorâneas, em face de infraestruturas turísticas e de visitação ainda incipientes. Os autores também discutem a relevância da geoconservação diante da crescente urbanização e ameaça aos recursos naturais, destacando o valor dos serviços geoambientais prestados pelas unidades geomorfológicas costeiras. Os estudos acima elencados demonstram a importância de se integrar conhecimento geomorfológico, planejamento urbano e educação ambiental na gestão do território. Seja na análise dos impactos das intervenções costeiras, no monitoramento de processos erosivos, na
valorização do geopatrimônio ou na percepção dos riscos pelas populações locais, todos os trabalhos contribuem para a construção de estratégias mais sustentáveis e resilientes frente às transformações ambientais e climáticas atuais. Ademais, a pluralidade de seções do presente volume da MPRG nos oferece resenhas de livros focados sobre geodiversidade e a geomorfologia do Piauí, além de mapas geomorfológicos em diversas escalas, um apresentando o município de Natal (RN), e outro o Brasil, neste caso já aplicando a nova nomenclatura de unidades de relevo proposta pelo SBCR do IBGE. A seção flashes geomorfológicos aborda os Geoparques no Brasil, enquanto a seção de fotos traz seletas de instantâneos da paisagem do Ceará e do Rio Grande do Sul. Chamamos ainda atenção para a nova foto de capa da revista
que retrata o icônico inselberg da Pedra da Galinha Choca em Quixadá (CE). Diante de tamanha diversidade temática, da excelente qualidade dos textos e demais produtos geomorfológicos convido a todos a explorarem da melhor maneira o número atual da MPRG. Que desfrutem!